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O silêncio de Bolsonaro não é inocente

by Rodrigo Rod
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A reclusão do presidente contrasta com seu ativismo digital, mina sua credibilidade como futuro líder da oposição e deve entravar persistência do bolsonarismo.

Dois dias após derrota eleitoral, Jair Bolsonaro chega para coletiva de imprensa em que fez pronunciamento, mas não reconheceu revés nas urnas© Andressa Anholete/Getty Images

Em pleno processo de transição de governo, o silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) diz mais que sua usual atitude estridente nas redes sociais. Esquivar-se de assumir a derrota por meio de uma estratégia de reclusão, contrastante com seu intenso ativismo digital dos últimos tempos, não soa como um cálculo político racional.

Bolsonaro perde mais do que ganha com esse comportamento.

Em suas raras aparições públicas desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, o atual chefe do Executivo cuidou de ser evasivo o suficiente para não desmobilizar os recentes atos que contestam o resultado das eleições e atacam a democracia – como o bloqueio das estradas e os movimentos violentos em Brasília, ocorridos durante a diplomação de Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Esse parece ser seu objetivo central até o momento. Nas poucas palavras que proferiu, nenhuma menção direta ao reconhecimento de sua derrota nas eleições, ao processo de transição de governo e às expectativas sobre seu desempenho para montar uma oposição articulada.

Enquanto Bolsonaro permanece calado, o processo de transição segue seu rito. E sem poupar críticas e apontar falhas da administração atual. Lula foi enfático quanto a isso: “nós teremos uma radiografia perfeita do estrago que foi feito nesse país”, afirmou, durante cerimônia de encerramento dos trabalhos dos grupos técnicos do gabinete de transição, no último dia 13.

Em meio a discussões sobre o “revogação” [a anulação de medidas do governo Bolsonaro já no início de 2023] e a PEC da Transição, Bolsonaro não se mostra disposto a romper o silêncio nem mesmo para defender as escolhas de sua administração, reivindicar créditos de seu governo ou dirigir críticas às mudanças significativas que o novo governo já sinaliza.

Se o atual presidente não esboça qualquer reação, é difícil presumir que tenha uma atitude proativa e seja capaz de conduzir a articulação de contraponto ao futuro governo Lula no Congresso. Apoiadores de Bolsonaro, inclusive dentro do PL, seu partido atual, se mostram reticentes quanto à sua capacidade de liderar uma oposição articulada.

As questões que emergem dessa estratégia do silêncio geram impactos no ambiente político a partir de 2023, tanto no que se refere à configuração do bloco oposicionista ao novo governo quanto ao futuro do bolsonarismo.

Diante disso, como será o amanhã de Bolsonaro após a virada do ano de 2022? A chama do bolsonarismo permanecerá acesa, ecoando um movimento persistente, ou a fragilidade política de seu líder tende a desmobilizar esses atos?

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